Às vezes, caminhando ao som do meu próprio coração, sinto a brisa acariciar-me o rosto e vejo ao redor uma vida de gozos e desgostos, vejo o sorriso, mas também vejo a lágrima. Vejo o perdão, mas também vejo ilusão. Às vezes, caminhando, observando os vivos, sinto saudade dos mortos, e realidade se estende à dor, a verdade parece não ter sabor de emoção e as ondas do som que escuto no caminho se perdem na imensidão do ninho.
O carinho que demonstro, o carinho que espalho, é orvalho e evanesce com a luz do sol. Sol que vem para aquecer e queimar, queimar uma pele tão fina e sem proteção. Às vezes ao sorrir penso no que vou transmitir. Amor, carinho, consideração, empatia, compaixão, harmonia. Tudo isso é vida, mas por algum motivo, caminho em busca morte.
Vejo o amor invadir a alma do poeta, porém a dor, inquieta, está sempre um passo a frente, sempre presente, sempre aqui e depois distante. E não se faz desaparecer. Essa dor que pede compreensão, não é a dor da saudade, não é dor de enlouquecer, não é a dor do medo, não é a dor da realidade, mas é sim, a dor da liberdade. Essa mesma liberdade que aprisiona na imaginação os vários dias de rotina, que parecem não pertencer a mim.
Se a liberdade fosse realmente livre não ficaria apenas na mente, seria a semente de novas paixões. Novas ilusões que me fizeram chegar até aqui acompanhada sempre do medo, da angústia, da vergonha, da fúria. E cheguei. Chego ao meu limite, descobrindo que tenho novos limites a transpassar, uma nova vida a frente para caminhar.
E às vezes, caminhando ao som do meu próprio coração, eu vejo o tempo passar com as nuvens no céu, vejo o véu da loucura ultrapassar a luz, vejo meu nome entre muitos nomes reais. A consciência segue cega e o amor quanto mais longe for me alcança, como o vento, ele sempre chega, chega e me abraça. Esse abraço é quente, mas não queima, é apertado, mas não sufoca e assim eu continuo caminhando, sempre presente, sempre distante.
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