24 de dez. de 2011

O amor no ser humano


   
 Como uma flor que desabrocha em pedras, o amor nasce das trevas. Sinto o toque, vejo a imagem, sinto o abraço, entendo linguagens. Interpretando poemas aprendi sobre o amor, mas apenas escrevendo, o revelei para mim. No fim, somos todos iguais, amamos mais ou menos, alguns amam intensamente, outros preferem a suavidade. Eu prefiro as cores no emaranhado da realidade. Uns aprendem com alegria, expressam a força que os guia para uma nova vida, outros aprendem forçados a compreender o incompreensível.
 Mil poetas já cantaram o amor, uns o definindo ou tentando definir, outros exaltando a dor de amar sem ter fim. Mas se escrevem é por sentir, sentir que a vida vale a pena, que é pequena a dor de saber amar com paixão, com precisão no ser amado. Sem glorificar, apenas na ação de chorar, chorar em lágrimas, chorar em palavras, chorar em abraços, chorar aos pedaços, chorar tudo, ou chorar mudo.
  Sinto que preciso imaginar um amor que me quer, algo maior, algo melhor, algo enaltecedor, algo no terror me faz perder tempo, perder música, perder medo, perder assistindo ao espetáculo de um ser conseguir em pouco tempo amar outro ser, com todas as virtudes e imperfeições, com todos  os medos e idealizações. Com o poder de dizer que ama enquanto sorri e que ama ainda enquanto chora. Mora dentro de cada um de nós, um perdão e uma gratidão, para quem direcionar esses sentimentos? Uns dirão, a Deus, que nos fez assim, capazes de amar, outros dirão para nosso amor correspondido, por nos aceitar.
  Digo que embora sejamos imperfeitos ainda e nos magoamos e erramos, e sentimos dor, e nos pesa o coração ao sofrer e ver que outros também sofrem;  tudo nos  é, em tempo certo, esclarecido. Se no amor o sofrimento se infiltra, filtra o sofrer e deixe fluir a compreensão. Não somos feitos para morrer, passar pela vida e deixa-la como a encontramos, somos humanos e nada nos impede de ir em frente, deixar marcas, cicatrizes. Quem um dia imaginamos ser, talvez não sejamos mais, incompletos, procuramos a essência de cada ser, e eu imagino que a vida nos quer amando, mais, menos, com dor, sem dor, intensamente, suavemente, no mais profundo recôndito da alma, ou na leveza da lágrima, amamos, pois que somos humanos.

O ser e seus mistérios


  Quem dá risada para o mundo não o compreende quem chora pelo mundo não o enxerga. Observando a vida ao nosso redor, sem julga-la, despertamos a poesia de cada novo dia. É abrindo a janela no alvorecer que podemos experimentar os primeiros raios de sol a nos tocar o rosto. É no aroma do vento num dia de chuva que aprendemos que não há melhor lugar no mundo a não ser simplesmente estar naquele momento.
 Quem nunca chorou ao se despedir ou sorriu no reencontro, quem nunca parou para ouvir a melodia do abraço, quem nunca esqueceu um aniversário só para depois se desculpar com aquele presente ou gesto inesquecível, quem nunca se perdeu nos próprios pensamentos, quem nunca duvidou da dúvida ou sonhou com a resposta para um grande e complicado problema. Quem nunca imaginou ter certeza e foi provado estar enganado. Quem nunca derramou lágrimas quando deveria rir e riu quando só havia motivos para chorar?
 Quando paramos por um segundo e esquecemos a velocidade do tempo que nunca parece se adaptar ao nosso ritmo, quando paramos por um segundo e nos desligamos das exigências de todos os dias em que vivemos para trabalhar e não trabalhamos para viver, podemos ouvir mais, enxergar mais, pensar mais, respirar mais, sentir mais. Ouvir o som do silêncio, enxergar as cores da escuridão, pensar no que estamos deixando para o mundo, respirar aliviando a tensão e sentir os sorrisos que enfeitaram nosso dia, mas ficaram escondidos atrás da preocupação.
 Ninguém consegue racionalizar todos os mistérios do mundo, tampouco apenas sentir com o coração todas as emoções e sentimentos acelerados nos meandros da mente. Cada milésimo de sentimento carrega seu minuto de razão. E cada segundo de razão carrega sua hora de emoção. Ninguém é feliz o tempo todo, mas é preciso ser muito pessimista para não retribuir um sorriso ou se alegrar com um abraço mesmo que seja apenas mais um ombro para chorar. Ninguém nasce pedindo para sofrer demais, nem vive para se esconder nas risadas. Todo mundo chora, todo mundo ri, às vezes chora de tanto rir, outras ri por tanto chorar.

15 de dez. de 2011

Terapia



 “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
  O que foi aprendido em terapia nesses últimos anos nunca será esquecido. Sobre mim, foram-me desvendados grandes segredos, medos, anseios, paixões. Nada do que fora esclarecido está sujeito ao total e completo esquecimento. Sempre terei uma ideia de quem sou; às vezes vaga, incompleta, porém a cada encontro mais consciente.  Na mente os pensamentos gritam inimigos do descanso não calam e esperam a hora de serem compreendidos.
   As horas, os minutos, os segundos não se perturbam com minha ansiedade e desfilam lentos nas passarelas do tempo. Quando não consigo encontrar palavras, meu olhar pode apontar as estradas, as portas, os sentimentos que talvez eu não devesse tentar ignorar. Minha sensibilidade também sabe se fazer notar, pois com ela eu, algumas vezes, pude perceber a tristeza que não era minha e a distância que se abria.
  Não sei como é a terapia para outros, para mim, é deixar entrar um pouco de luz onde só há escuridão. É perceber em mim o que somente enxergava nos outros, é como dizia a minha professora de história sobre história, desvendar o passado para compreender o presente e modificar o futuro. Foulcault um dia disse; “A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.”.
  Foi enlouquecendo que descobri que não aguentava carregar meu mundo sozinha e foi na terapia que aprendi que não precisava fazê-lo. Inventei vários mundos para vários sentimentos, meu processo sempre fora explorar a imaginação e separar emoções para não me perder, mas sempre acabava me perdendo. Porém, foi em terapia que aprendi que o melhor caminho não é separar e na verdade compreender. Não preciso de uma psicóloga Perfeita, imune a erros, incansável, preciso apenas de  uma alma humana que saiba tocar o que é frágil sem quebrar. Ouvir sem calar e sentir sem se perturbar.
 

12 de dez. de 2011

escrevo


Escrevo

Escrevo para dividir sofrimento.
Escrevo para levar alegria.
Escrevo para me livrar do tormento,
De enfrentar feras durante o dia.
Escrevo para aliviar uma saudade.
Escrevo em mentiras, escrevo em ilusão.
Escrevo a paixão da verdade.
Escrevo o ridículo, o banal.
Escrevo a piada triunfal.
Escrevo para transformar sonhos em realidade.
Escrevo para alimentar no infinito a efemeridade.
Escrevo sentimentos frugais,
Que encantam nas canções fulgurais.
Escrevo no silêncio, na escuridão.
Mas escrevo para fazer bagunça, barulho no coração.

9 de dez. de 2011

distâcia

  Distância, abrimos as portas, as janelas, abrimos entradas onde não se pode encontrar saídas. Deixamos fluir, entrar, existir. Fazemos rir, sorrir, amar, encontrar um doce lar, gentil, da infância, de lembrança pueril. Distância, tudo se perde entre gigantes, a alma reconhece instantes em que o mundo emudeceu. Nas vozes da noite a solidão se perdeu. Abrimos o coração, com medo, com vergonha, com desconfiança e esperança. Esperança de que na verdade, os sentimentos não estivessem vazios, frios. De que os sorrisos não foram em vão, de que o abraço não fora na realidade, um aperto de mão. 
  Distância, a criança grita no silêncio, amor nobre que machuca, expulsa a dor, segue e enxerga a beleza, morre, viaja com as estrelas, corre, voa com o vento. O pensamento divaga pela mesma distância que se abriu, a consciência se apaga, aos poucos se cala e o carinho de outros é muito, mas também é pouco. Muito fora esquecido entre momentos desperdiçados no medo, no silêncio, na vergonha, na rejeição, nesse amor profundo, ferindo a ilusão.
  Esperança de quebrar o espelho, enxergar além do reflexo irreal. Esperança de que mesmo distantes ainda podemos fazer muito com o pouco que aprendemos. Com o tanto que escolhemos viver, todos os dias em que não morremos. Esperança de que um dia a vida seguirá  inteira, com todos os pedaços em laços, formando o verdadeiro coração. E o abraço carinhoso perderá o som do abandono, em lágrimas as palavras serão eternas, marcando para sempre o final e o começo, o valor de um amor sem preço.

1 de dez. de 2011

palavras


   As palavras fazem sentido na minha mente, perdido no momento fica o medo de confundir, fugir da realidade para me embrenhar em meio à confusão. Ilusão dos nobres que imaginam o que nunca foi, o que um dia será. Fará diferença o amor no papel e o amor na alma? Somente a lágrima de quem sente paixão pode acalentar os pobres de coração. Amar muito, expressar em qualquer arte, qualquer gesto, qualquer protesto de alívio para os que choram. As palavras fazem sentido na minha mente, mente de quem espera pouco, mas sente que o pouco pode ser muito, tal lua de brilho fino no começo da noite.
  Peço muito a poucos, e pouco a muitos. Peço coragem, peço abrigo, peço abraço, peço sorriso, peço o amargo gosto das derrotas, para não perder o gosto doce da vitória. Nunca vou me esquecer da glória de trazer aos que falam um silêncio, um alívio, um pouco de mim. Enquanto a lágrima se perde nesses rostos tão amados, deixo-lhes o afago do sorriso. Preciso de palavras que me calem, preciso do poeta para enxergar beleza nessa tristeza que não dorme. Preciso de olhares que penetrem o mais profundo abismo do eu que não quer ser visto.
   As palavras fazem sentido no meu coração, perseguem monstros, escondem tesouros, se perdem na magnitude desta imensidão colorida, vida nas cores do dia e morte entre noites vazias. Escolho com descaso, mas no acaso do artista uma obra se enfeita de metáforas, antíteses, paradoxos, aliterações. Faço escolhas fáceis para enfatizar minhas afeições. As palavras se encontram umas com as outras se casam, se abraçam, se transformam em orações. As palavras nunca estão sós, desfazem os nós da mente e mesmo a solidão vem acompanhada da palavra emoção. Rimando, cantando, declamando, em versos ou não, as palavras fazem sentido. Costurando a gente se encontra, misturando a gente se expressa.