29 de mar. de 2012

Amor próprio


Amor próprio

  Eu acreditava que o amor deveria ser doado e consequentemente recebido. Um dia meu pensamento voou, me encontrando num universo diferente, num momento diferente, com uma vida diferente, a única permanência entre esse mundo e a realidade da qual eu fugia, eram as pessoas que eu amava as que me ouviam pacientemente, as que me faziam rir de mim mesma, as que me enxergavam na multidão.  Nesse mundo essas pessoas não sofriam, não morriam e não me abandonavam. Mesmo assim em meio a tanto amor e alegria, eu não estava inteira, tampouco feliz. Então meu pensamento voltou.
   E caminhando agora no presente e na realidade eu sei que o meu amor por mim é o que sempre me neguei. Eu conseguia amar e admirar a todos que conviviam comigo, no entanto a pessoa mais presente na minha vida, a única que quis ser notada, percebida, reconhecida e amada eu simplesmente tentei apagar, eu tentei me apagar e o vazio aumentou, a carência não se desfazia ainda que eu estivesse recebendo um imenso amor, faltava alguém nesse círculo, nesse laço, nesse vínculo. Eu.
  Por muito tempo eu pensei que me amar significava aceitar meus defeitos, me esconder para me proteger, inventar outras Marianas que fossem menos eu e mais os outros. Hoje, com muita ajuda, eu entendo que aceitar meus defeitos não quer dizer que devam ser imutáveis e permanentes. Eu posso reconhecê-los e molda-los em virtudes, essas virtudes valem muito mais que os talentos inatos, pois foram alcançadas com trabalho, luta e perseverança, mesmo que me dissessem que era impossível ou inútil. Ainda me escondo, mas não de todos o tempo todo. Eu abro meu sorriso para abraçar os que se aproximam quando me procuram por afeto e carinho. Eu não preciso mais inventar alguém além de mim. Posso simplesmente escolher quais características minhas, verdadeiras, autênticas eu mostro a cada um que estiver comigo.
  Eu admiro em mim, não apenas meu dom de produzir textos belos, ou compor uma canção mais repleta de sentimentos que técnica, ou minha paixão pela arte da criatividade. Amo em mim minha capacidade de enxergar o outro com a mesma intensidade com que quero me enxergar. Minha mente questionadora que às vezes me confunde e principalmente o amor que não me deixa desistir, tão irracionalmente racional que às vezes teme ser pouco, ainda que seja sempre muito. Quando sou capaz de receber um sorriso, um abraço, um olhar afetivo eu penso que algo em mim é bom, confiável, amável então não preciso negar a mim o que outros já afirmaram que mereço e quero acreditar indubitavelmente que realmente mereço meu amor por mim.
  

17 de mar. de 2012

Vestígios


  Quantas vezes você saiu de um lugar qualquer, deixando uma marca só sua para trás? Pode ser tão concreta quanto um pedaço de papel, com uma mensagem ou seu nome assinado ou tão abstrata quanto um sorriso que ficou marcado no coração de alguém que estava com você, ou passou por você ou simplesmente olhou em sua direção num momento completamente espontâneo. Pode ser uma marca evanescente como um perfume ou uma duradoura como um abraço que deixa resquícios seus no outro.
 Quantas manhãs você saiu apressadamente de casa, esquecendo-se de arrumar a própria cama? Isso também é o seu vestígio dentro de um mundo que poucas vezes o percebe. Você se deitou a noite, adormeceu, talvez sonhou, acordou, quem sabe não sorriu ou chorou, ou fez as duas coisas e finalmente deixou para trás a história da noite anterior.
  Quando foi a última vez que você ficou tão contente de reencontrar alguém que as palavras fugiram da sua boca? E tudo o que restou foi um grande e silencioso sorriso, enfeitado ou não por lágrimas de alegria. O seu silêncio também foi sua marca, foi um momento em que as palavras foram apenas expectadoras de algo inefável. A sua marca não precisa estar visível, pode ser simplesmente sensível em você e em quem você deixa sua marca.
 Quando foi a última vez em que, escrevendo uma carta, um poema ou um texto qualquer, você deixou que uma lágrima solitária fizesse um pontinho enrugado no canto do papel? Essa lágrima está perdida num contexto que somente você e quem você permitir ler seu momento de sensibilidade, serão capazes de compreender, que naquele instante essa lágrima deixou um fragmento seu entre palavras imortais. Quantas marcas você é capaz de deixar nas pessoas que estão sempre com você? As marcas que você deixa no mundo hoje, realmente expressam aquilo por que você quer ser lembrado? Ou está na hora de pensar em mudar, transformar a efemeridade no inesquecível?