5 de dez. de 2006

Tio Jairo

Nem uma foto eu tenho para levar comigo a vida que resplandecia em seu olhar. Perdi um amigo sem conhecer metade do brilho que trazia sua companhia, perdi uma família. As lembranças são poucas, escassas, mas o suficiente para me fazer chorar, chorar por um tio com quem eu nunca pude compartilhar alegrias, idéias, canções, emoções, vida. E a saudade, é apenas a saudade etérea do fato de que o nunca agora é real, nunca sentirei o calor de um abraço seu, nunca canterei a seu lado músicas ancestrais, nunca ouvirei sua risada das piadas, das palhaçadas, nunca sentirei o carinho de um beijo , o amor em um gesto, a ternura de um toque.
Por motivos tão banais dividimos tão pouco, éramos duas pessoas ligadas pelo sangue, mas separadas pelas circunstâncias, em duas famílias diferentes. Foram momentos felizes os que passamos juntos, foram momentos que levarei comigo em meu coração para sempre, foram momentos em que o amor prevaleceu, foram momentos que nossos corações bateram no mesmo ritmo, mas foram poucos. Invejo meus primos por poderem lembrar de você ao ouvirem sua música favorita, ao olharem uma fotografia e lembrarem daquele dia que ficou registrado para sempre, ao assistir a um filme e saber que aquele era filme do qual você gostaria. Eu não fiz parte da sua vida, não tanto quanto eu desejaria, eu não fui parte da sua família, mas ainda assim sentirei saudade, uma saudade diferente, de momentos que passamos juntos, e de momentos que gostaria de ter estado a seu lado. Sentirei saudade da presença e da ausência. Sentirei saudade do tio que passou pela minha vida a marcou e nos deixou, sentirei saudade da família que se separou. Levo comigo seu sorriso, levo comigo o pouco que convivemos e deixo aqui meu adeus.

22 de out. de 2006

save me

"Agora eu vou cantar pros miseráveis, que vagam pelo mundo derrotados, para estas sementes mal plantadas que já nascem com cara de abortadas"

Quero ser alguém apaixonada, quero brincar de ser gente, quero morrer idependente, quero abrir um livro e sentir novamente o prazer edificante da primeira leitura de uma aventura.

Quero inventar meu estilo, quero matar o tédio, quero fazer mistério. Ser diferente, ser experiente. Quero divagar nas ondas da criatividade, quero me emocionar ao assistir a um filme. Estou na idade da loucura, procurando tratamentos alternativos, perdendo a esperança, chorando feito criança.

Faço apologia ao suicídio, porque sinto que meu momento está chegando. Faço música porque quero deixar alguma coisa para sempre, faço poesia porque sinto tanta coisa que não cabem num pessoa só... sentimentos desesperadores, que fazem com que eu me mate aos poucos... até que um dia não sobre nada...

16 de set. de 2006

Nada passa sem deixar rastros, memórias.
Foi testando meus limites que aprendi a viver, me destruindo, quebrando regras, esquecendo as leis.
Ninguém existe para ser esquecido, deixarei minha marca no mundo para aqueles que quiserem ver, para quem tiver sensibilidade para enxergar a beleza na morbidez, nas trevas. Vivo de vícios, na escuridão profunda de uma realidade tétrica, morfética.
Ninguém existe para ser esquecido, ficarão histórias, ficção ou não, os leitores decidirão.

7 de set. de 2006


Num sorriso, uma máscara, disfarçando as lágrimas que esqueci de chorar, não por vergonha, que olhem, não ligo, choro mesmo, sem pudor, sem embaraço, mas por fraqueza, por desprezo aos sentimentos que me invadem. Orgulho tenho apenas pelas palavras que escrevo, porque descrevo a beleza da dor, da saudade, da morte, escolhendo cada expressão, como se definir as emoções mais sombrias que dominam meu ser, pudesse aliviar a pressão de as possuir, em mim, a desilusão, com palavras pinto um espantalho.

amor e solidão

A solidão consolida seu domínio
Minha alma chora,
desesperadamente implora
por um fim, espera o extermínio.
Alienada, começo um novo dia
angustiada, concedo à dor um lar,
Sem paz, passo os dias a sonhar.
Imagens distorcidas, sem harmonia
Fazem parte da realidade destruída
Pelas vozes altivas da sobriedade.
Apenas morte falsa, fingida.

Morte do espírito, do tempo, da verdade.
Somente o amor permanece,
Mas logo o poder do sentimento evanece.