7 de ago. de 2011

um coração


Um coração
      “Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor, é com minhas ideias que tremo, com minha consciência de mim”. Álvaro de Campos.
       Palavras são eternas, elas duram várias vidas, elas suportam dores, amores, angústias, felicidade e tristeza. As palavras descrevem a alma de quem consegue, em palavras, juntar o feio e o belo e transformar beleza em meros versos, versos que doam, e doem versos que choram e que sorriem. São as palavras minhas melhores amigas, estou sempre em busca de novos textos, novos trechos de mim mesma e, nas palavras, procuro encontrar alívio que no sangue seria efêmero.
       Busco uma consciência de mim, de quem deveria ser, de quem deveria pensar. Se sou eu que penso, agora escrevendo estas palavras, eu não sei. Só sei  que me permito desandar e desvairar em palavras jogadas neste papel para permitir minha loucura de expressar sua existência. Palavras são fortes, nunca enfraquecem na dor de não ser, pois eis que são. Elas estão no pensamento do poeta, estão nas cores do céu, estão no brilho das estrelas, estão no afago da mãe, no carinho do amigo, na preocupação do irmão. Elas simplesmente são e estão em todos os lugares. Palavras existem para serem usadas, faladas, escritas, recitadas, cantadas, ensaiadas, repetidas, declamadas em fogo de uma paixão que não existiria sem as verdades e mentiras contidas num poema, num texto, numa canção, numa emoção.
  Perco-me diante das inúmeras combinações que poderia trazer-me novamente a fé que se desmanchou. Diante da morte, escrevo para enfraquecer demônios, diante da vida, escrevo para fortalecer alegrias; diante da tristeza, escrevo para enfeitar o dia; diante da alegria, escrevo para exaltar a poesia.  Estou perturbada, fraca, egoísta, carente, dependente, quebrada, mas eis que chegam palavras e transformam todas as angústias em uma só emoção. Há muitos espaços no meu coração e como um quebra-cabeça vão se juntado, colando, encaixando todos os amores de uma vida dentro deste músculo imperturbável. Vou deixando crianças brincarem de montar, desenhar e combinar várias formas para um coração indefinido, partido, com mil peças a divertirem-se no espaço que lhes pertencem, nas pessoas que a quem lhes pertence. Nos amores que quero dividir, no meu, no seu, no nosso coração, milagres são feitos a todo instante.  Perante o mundo cada pedaço é insubstituível, cada palavra um nome e cada nome um ser amado, contido, guardado, protegido do furacão de sentimentos, presos num só coração.