19 de jun. de 2007

O que faz da imagem refletida no espelho transformar-se em aberração, monstro, o que provoca a repulsa do próprio ser refletido? É a mentira que carrega na consciência, o medo de não poder ser mais a estranha criatura que no vazio da solidão permanece oculta, perdida na sociedade contemporânea, moderna, veloz, apressada. Ser apenas mais uma alma alucinada na amargura de fazer parte da massa, insignificante.
Essa imagem impura que o espelho revela diante do verdadeiro ser é a imagem que tentamos esconder. Que imaginação tão fértil criou tal reflexo? Ao ler o jornal e identificar-se com os corruptos, ladrões e assassinos e perguntar-se; "serei eu capaz de tamanha maldade? Poderia eu tirar uma vida? Roubar inocentes, ser escravo da luxúria?" E o que acontece quando repondemos "sim"? Estamos sendo honestos com nossas próprias personalidades infames?
Pagamos caro por erros cometidos no passado e repetindo-os no presente, tem gente que nunca aprende. Pecados derivados do tédio, um tédio que persegue, enlouquece, mata. O que faz da imagem refletida no espelho uma aberração? É verdade sendo exposta diante da mentira que foi criada para sobreviver na sociedade massificada, ser, enfim, um indivíduo normal é apenas transformar o anormal em sombra e viver sufocando sentimentos reais, porque demonstrar medo é coisa de covarde, a sensibilidade é frescura de quem pensa amar demais, de quem ama pensar demais.